RONDÔNIA: Competitividade e estresse estão afetando a saúde mental dos advogados

Para auxiliar no tratamento, a OAB-RO e a CAARO têm investindo em acolhimento aos operadores do direito com atendimentos psicológico

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Foto: OAB-RO

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Saúde Mental! Esse pode ser considerado um dos maiores desafios que o mundo enfrenta e enfrentará nos próximos anos. Isso tem impacto no comportamento de todas as sociedades. O quadro se agravou ainda mais com a pandemia de Covid-19, que forçou a humanidade a mudar o estilo de vida, se isolar e conviver com perdas e luto de uma forma nunca experimentada pelas últimas gerações. O resultado foram aumentos dos casos de depressão, ansiedade e síndrome de Burnout. 
 
No Brasil, o cenário, infelizmente, não foi diferente. Dados nacionais confirmam o agravamento da situação. A pesquisa Covitel 2024 revela que 56 milhões de brasileiros — o equivalente a 26,8% da população — convivem com algum grau de transtorno de ansiedade. O resultado de tudo isso pode ser percebido no aumento dos atendimentos feitos pelo SUS. Segundo o Ministério da Saúde entre janeiro e outubro de 2024, foram registrados 671.305 atendimentos ambulatoriais por ansiedade. Esse número representa um crescimento de 14,3% em comparação com o ano anterior.
 
 
Segundo o Ministério da Saúde janeiro e outubro de 2024 foram registrados 671.305 atendimentos ambulatoriais por ansiedade
 
As doenças mentais não escolhem público alvo, elas afetam a todos em maior ou menor graus. Sendo assim, os profissionais da advocacia também são vítimas dessas condições, tanto que o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil criou a Cartilha da Saúde Mental da Advocacia, com explicações e dicas sobre como lidar com esses transtornos. 
 
E como anda a saúde mental dos advogados e advogadas em Rondônia? Os problemas existem e, alguns operadores do direito estão encontrando forças para enfrentar de frente as dores da alma. Um exemplo é a advogada Tícia Alves(nome fictício), que começou a perceber que atividades que antes fazia com desenvoltura passaram se tornar verdadeiros calvários, fazendo com que se isolasse dos familiares, amigos e colegas de profissão.
 
“Há alguns anos, estou passando por conflitos internos que ao longo dos meses só iam se intensificando como: não aceitação da minha atual imagem, baixa estima, falta de aptidão para os trabalhos, muito sono, desânimo, medo de falar em público por si só me travava. Coisa rara para quem era acostumada a dar palestra e a falar para multidões nas escolas, associações, instituições. Passei a negar entrevistas, palestras, trabalhos, mesmo querendo muito realizar. No âmbito profissional, não conseguia mais produzir os trabalhos com a mesma intensidade e qualidade que realizava. Comecei a negar serviços, a sumir para me afugentar de forma isolada no sítio, em lugares que tinha só alguns da família, e se chegassem outros que não eram da minha vida cotidiana não me sentia à vontade para estar ali. E quando chegavam eu inventava desculpas e saia, sumia, voltava pra casa, e então foram desencadeando problemas sérios e catastróficos, inclusive o desequilíbrio financeiro devido todo o exposto”, relatou.
 
 
Tícia contou que passou a ter dificuldades para executar tarefas que sempre fazia com facilidade e resolveu procurar ajuda
 
Tícia relatou que o resultado de todo esse processo foi que engordou 33 quilos em menos de um ano, passou a sentir medo, fobia de lugares como praças, parques, shopping e eventos do trabalho. Ela contou que chegou ao ponto de não se sentir digna de frequentar esses espaços e se a forçassem passava a sentir ânsia de vômito, dor de cabeça, tonturas, chegando mesmo a desmaiar na rua ou em ambientes com muita gente.
 
Mas a luz no fim do túnel para a advogada nessa luta contra os fantasmas que a atormentavam foi encontra da Caixa de Assistência dos Advogados de Rondônia (Caaro). Tícia que a virada de chave para buscar ajuda aconteceu quase que por acaso.
 
“Certo dia, assisti um vídeo da Caaro onde falava de cuidar da saúde mental. Foi então que me dei conta da gravidade do que eu estava passando. Iniciei o tratamento com a dra. Jaqueline Lima, que é um anjo na minha vida, pois, me fez ver que estava doente e precisava de ajuda. Fui diagnosticada com transtorno de ansiedade, depressão e distúrbio do sono. Começamos terapias e ela também me encaminhou para acompanhamento psiquiátrico e demais especialidades cuja importância e que precisam fazer parte do processo que preciso passar. E então, desde de fevereiro/2025 estou sendo acompanhado por uma profissional de excelência a qual me faz acreditar no meu potencial e principalmente me fez reconhecer que buscar ajuda e um ato de coragem”, avaliou.
 
 
Sobrecarga
 
A psicóloga Jaqueline Souza atende profissionais do Direito, pela Caaro, desde 2022, e nesse tempo ela conta que tem percebido um aumento considerável de casos de problemas mentais entre esses trabalhadores. Os distúrbios mentais mais comuns entre os advogados atendidos pela psicóloga são: transtorno de ansiedade generalizada, depressão, Síndrome de Burnout e distúrbios do sono.
 
Segundo ela, a cada dia, tem percebido que esse sofrimento psíquico tem relação com uma série de fatores como a rotina intensa, a alta competitividade, a sobrecarga de processos e prazos, além do contato constante com conflitos. 
 
 
A psicóloga Jaqueline Souza atende pela CAARO e disse que os distúrbios mais frequentes entre advogados são: ansiedade, depressão, Síndrome de Burnout e insônia
 
“Isso faz com que a saúde mental dos advogados seja bastante exigida. Muito disso também está ligado a história de vida e traumas do paciente, que são reproduzidos e atualizados em comportamentos, emoções e pensamentos limitantes e disfuncionais. Outras causas são: estresse crônico, à pressão por resultados, à insegurança financeira em alguns momentos da carreira, jornadas longas de trabalho, dificuldade em separar vida pessoal e profissional, além do impacto emocional ao lidar diariamente com problemas de terceiros”, explicou. 
 
 
Jaqueline observou que as advogadas procuram mais ajuda como forma de prevenção e autoconhecimento. Já os advogados somente vão ao consultório da psicóloga quando o quadro e sintomas já estão presentes e agravados. Outro importante ponto destacado por ela é que os advogados mais novos entre 24 e 40 anos não tem problema em procurar ajuda psicológica. Já os além dessa faixa etária raramente a procuram. 
 
 
“Acredito que essa realidade esteja relacionada a pensamentos e estilos de vida enraizados em uma época, que outrora, profissões como a psicologia e psiquiatria eram vistas como tabus. Realidade essa que vem mudando nos últimos anos”, avaliou.
 
 
Abrigo
 
A presidente da Caaro, advogada Aline Silva, contou que a entidade tem procurado ser um abrigo e sem julgamentos aos profissionais do direito que buscam apoio para os problemas mentais que estejam enfrentando. Ela concorda que a advocacia é um espaço de muita cobrança e com elevada carga de trabalho, o que contribui para o aparecimento das doenças psicológicas.
 
 
“A rotina intensa, prazos curtos, sobrecarga de processos, insegurança profissional e pressão por resultados impactam diretamente no bem-estar emocional. Muitos advogados relatam sintomas de estresse, ansiedade e cansaço, que acabam interferindo tanto na vida profissional quanto no pessoal. No entanto, a CAARO e a OAB/RO têm buscado oferecer espaços de escuta, acolhimento e acompanhamento psicológico, para que os advogados tenham um suporte efetivo no enfrentamento dessas demandas”, afirmou.
 
 
Ela disse que a Caaro disponibiliza três psicólogos para atender os advogados e advogadas que buscam ajuda. Os problemas mais comuns detectados pelos profissionais são: transtorno de ansiedade generalizada; transtorno do déficit de atenção com hiperatividade; síndromes de estresse ocupacional e burnout; depressão; e distúrbios do sono. 
 
 
Tabu
 
Aline contou que além dos profissionais de psicologia disponíveis para atender a categoria, a atual administração da Caaro e da OAB/RO tem investido na criação de ambientes onde quem necessita desse amparo se sinta seguro e à vontade.
 
“A atual gestão da tem como uma de suas principais prioridades a saúde mental dos advogados. Algumas ações importantes foram e estão sendo realizadas como: reestruturação da estrutura física, que foi possível com o retorno do endereço da CAARO para a sede da OAB, em Porto Velho. Com duas salas amplas, modernas e acolhedoras, pensadas para o bem-estar dos profissionais e pacientes. Hoje, 105 advogados são assistidos semanalmente pelos psicólogos que atuam diretamente no prédio da OAB e da CAARO”, disse.
 
 
A presidente da CAARO, advª. Aline Silva(ao microfone), afirmou que a instituição é um espaço de acolhimento dos profissionais da advocacia que precisam de apoio
 
Paralelo a isso, há uma conscientização sobre saúde mental com palestras, campanhas, rodas de conversa sobre saúde mental, que buscam desmitificar o tema. Aline observou que saúde mental é um tema que, assim como na população em geral, também ainda é evitado pelos profissionais de direito.
 
“Sim, ainda existe esse tabu. A advocacia é uma profissão associada à imagem de força, resiliência e autossuficiência. Isso faz com que muitos profissionais relutem em admitir fragilidades emocionais, com receio de serem vistos como menos capazes. Porém, temos percebido avanços importantes: cada vez mais advogados reconhecem a importância de cuidar da saúde mental e têm procurado os serviços oferecidos pela Caaro. Temos trabalhado para quebrar esse tabu, reforçando que pedir ajuda é um ato de coragem e cuidado consigo mesmo”, finalizou.

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