DICAS DE LEITURAS: Duas HQs brutas e geniais para ler numa tacada só – Por Marcos Souza

Obras são verdadeiros combos de histórias inteligentes e desenhos espetaculares

DICAS DE LEITURAS: Duas HQs brutas e geniais para ler numa tacada só – Por Marcos Souza

Foto: Marcos Souza

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Histórias em quadrinhos há tempos deixaram de ser uma literatura barata somente para crianças e adolescentes. Edições especiais com encadernamento de luxo (capa dura e papel couché de gramatura alta) são a tônica atual de editoras como Panini, Mythos, Pipoca & Nanquim, Conrad e Devir, que dão ênfase a clássicos, tornando a leitura extremamente prazerosa. Pena que essas edições estão ficando cada vez mais caras. O consumo é, portanto, restrito a um nicho de leitores nerds com maior poder aquisitivo.
 
No entanto, cada vez mais plataformas de venda, sebos virtuais e aplicativos como Amazon e Shopee vêm oferecendo revistas usadas a preços mais acessíveis, com excelente qualidade.
 
Vou indicar, como leituras obrigatórias, duas grandes HQs clássicas e notáveis pelo conteúdo de roteiro e arte, que podem ser adquiridas em sebos virtuais e lojas online por preços bastante acessíveis — recomendo o Estante Virtual ou as promoções que sempre ocorrem no site da Amazon.
 
São HQs para adolescentes (a partir dos 16 anos) e adultos. Ou seja, têm conteúdo violento, sexual ou com linguagem inapropriada para crianças — principalmente a segunda dica, uma obra com adaptações de contos do escritor Charles Bukowski.
 
De qualquer forma, são diversões garantidas, que atendem quem gosta de uma leitura sequencial de primeira. Verdadeiros combos de histórias inteligentes e desenhos espetaculares.
 
 
BATMAN: ANO UM – Frank Miller & David Mazzucchelli
 
Essa HQ é um dos maiores clássicos dos anos 80 do Batman, publicada originalmente pela DC Comics entre 1986 e 1987. No Brasil, foi lançada logo em seguida, entre setembro e outubro de 1987, pela Editora Abril, no estilo “formatinho”, colorida e com lombada grampeada, como uma minissérie em quatro edições dentro da 2ª série do personagem.
 
“Batman: Ano Um” marcou a continuidade do trabalho do quadrinhista Frank Miller, que anteriormente havia produzido a espetacular minissérie definitiva sobre o Homem-Morcego, O Cavaleiro das Trevas, obra que escreveu e desenhou — com arte-final de Klaus Janson e cores de Lynn Varley, que mais tarde viria a ser sua esposa.
 
“Batman: Ano Um” representa um reboot do personagem dentro da proposta da DC, detentora dos direitos do herói, de reformular as publicações. A editora queria reiniciar todo o universo dos principais super-heróis, zerando as revistas e trazendo uma proposta moderna, adequada à nova geração.
 
Assim como Frank Miller foi responsável por reescrever o sombrio personagem para uma nova era, John Byrne assumiu a tarefa de recriar o Superman, e George Pérez deu nova vida à Mulher-Maravilha.
 
Por coincidência, todos esses autores haviam trabalhado anteriormente na Marvel — principal concorrente da DC — e conseguiram vender horrores com a retomada do “trio sagrado” de super-heróis.
 
 
Voltando a Batman: Ano Um, o artista responsável foi David Mazzucchelli, cujo estilo econômico e realista, com uso marcante de sombras, conquistou Miller. Essa estética foi um grande atrativo para a história que ele queria contar. E que história.
 
Numa Gotham City dominada por policiais corruptos e famílias mafiosas que controlam negócios envolvendo políticos e autoridades importantes, o ainda jovem e inexperiente tenente James Gordon — antes de se tornar comissário — é transferido a contragosto para a cidade, acompanhado de sua esposa, Bárbara, grávida do primeiro filho do casal. Aqui, a narrativa não faz menção a Bárbara como filha de Gordon (a Batgirl no cânone), e sim como sua esposa.
 
Paralelamente, acompanhamos a chegada do jovem bilionário Bruce Wayne a Gotham, retornando à cidade natal após a tragédia da infância, quando perdeu os pais em um assalto. Ele decide estudar e treinar fora do país, sob a supervisão de seu fiel mordomo Alfred.
 
Em duas narrativas paralelas, vemos a descoberta e o amadurecimento de Gordon diante da força bruta e das pressões que sofre no distrito policial, onde percebe que o local está tomado por agentes corruptos e esquemas articulados, com a complacência do autoritário comissário Loeb — um aliado próximo de chefões criminosos poderosos.
 
 
Ao mesmo tempo, acompanhamos a construção do herói mascarado Batman por Bruce Wayne, que decide combater o crime usando todo o conhecimento adquirido em anos dedicados a artes marciais, somado à sagacidade intelectual que envolve psicologia comportamental, ciência e a frieza adquirida em sua formação.
 
A HQ é impressionante, pois mostra a origem do uniforme, o uso de tecnologia e a decisão de Bruce em assumir uma identidade secreta para combater o crime, destacando sua furtividade e força extraordinária.
 
Em determinado momento, diante dos problemas que ambos enfrentam contra a criminalidade da cidade, Gordon e Batman acabam unindo forças.
 
A narrativa, engenhosa e nada simples, une essas duas figuras da justiça em uma das cidades mais sujas, corruptas e desgraçadas do universo da DC.
 
Se o texto de Frank Miller cria situações de ação de tirar o fôlego — como o embate em um prédio de mendigos, com Batman enfrentando um batalhão de policiais —, temos também um arco de James Gordon mais humano e frágil, vivendo uma aventura extraconjugal enquanto enfrenta colegas violentos. Essa escolha narrativa mostra, da forma mais dura possível, que mesmo com uma esposa grávida, os meandros da corrupção de Gotham podem afetar sua vida pessoal para sempre.
 
Procurem, adquiram: esta é uma das mais importantes HQs da história e um marco definitivo na trajetória do personagem Batman.
 
 
BUKOWSKI: DELÍRIOS COTIDIANOS – Charles Bukowski & Matthias Schultheiss
 
Charles Bukowski é um dos mais importantes escritores do universo literário moderno. Considerado único, escreveu dezenas de contos em livros que seu alter ego, Henry  Chinaski, vivia todo tipo de sorte miserável e marginal a que o próprio Bukowski se expôs — e transformou em genialidade. Por isso, ficou conhecido como o “velho safado”.
 
O universo de Bukowski era restrito, mas sagaz: uma narrativa direta, sem filtros, sem pudor em usar palavras chulas para retratar sua rotina de escritor, sempre cercado de bebedeiras — especialmente vinho —, bares e prostitutas.
 
Nascido na Alemanha, mudou-se ainda criança para os Estados Unidos, onde passou a juventude, serviu o exército e decidiu viver do jeito que quisesse, ainda que isso significasse levar-se ao limite.
 
Durante décadas trabalhou nos Correios, experiência retratada no livro Cartas na Rua, que mostra o quanto se desgastava tentando conciliar a vida de carteiro com sua rotina de bar. Sua vida pessoal, cheia de mulheres diferentes, era marcada por uma paixão avassaladora pela literatura e pela poesia — algo que o levou ao patamar de estrela literária, mesmo sem se importar muito com isso.
 
 
O reconhecimento veio tarde: já idoso, Bukowski viu seus livros venderem muito, tornando-se uma figura cultuada. Era convidado a dar palestras em universidades, onde geralmente discutia com estudantes e subia ao palco depois de beber mais de duas garrafas de vinho.
 
O quadrinista alemão Matthias Schultheiss, um dos mais prolíficos e respeitados da nona arte, conseguiu o improvável: transformar em imagens oito contos famosos de Bukowski, traduzindo sua prosa crua em desenhos de forte impacto artístico.
 
No mundo de bêbados, trabalhos insanos, mulheres histéricas, prostitutas e marginais que permeavam o cotidiano de Bukowski, Matthias deu um tratamento digno, com uma arte que transita com naturalidade pelas peripécias do “velho safado”.
 
 
Entre os contos transformados em HQ estão: Os Assassinos, A Puta de 135 Quilos, Mãe Bunduda, Henry Beckett, N. York, 95 Cents ao Dia e Um Trabalho em New Orleans. Micro-histórias intensas, sem concessões, em que Bukowski não poupa a crueza autobiográfica ao tratar de sexo, subempregos, bebedeiras e absurdos cotidianos.
 
Destaque para o conto ilustrado Kid Foguete no Matadouro, uma obra-prima de humor nonsense, e para Dois Bêbados, arrebatador em sua simplicidade brutal.
 
Uma obra-prima digna do escritor, que ao mesmo tempo diverte e faz pensar. Nunca seja como Bukowski — um homem geralmente solitário, sem papas na língua, esperto, mas também insano quando desejava ser.
 
 
Uma ótima leitura.
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