A programação iniciou na quarta-feira, 26 de novembro, no auditório do IFRO (Instituto Federal de Rondônia) com a exibição do documentário “O Mito na Amazônia", da cineasta rondoniense Monique Pereira. A obra abriu as reflexões propostas pelo colóquio. Além de atividades formativas, momentos de integração com a mesa de diálogo sobre “(Re)Existências e Representações: Perspectivas sobre Gênero na Comunicação”. O debate discutiu desafios, silenciamentos e avanços relacionados às diversas expressões de gênero no campo comunicacional, destacando o papel da mídia na garantia de direitos. A mesa foi formada exclusivamente por mulheres:
Um dos momentos mais marcantes da noite foi a ação simbólica realizada pela convidada Bené Nascimento, que posicionou em uma cadeira vazia frente à mesa, uma placa onde se lia “ESTA CADEIRA ESTÁ VAZIA PORQUE UMA MULHER QUE PODERIA ESTAR AQUI FOI VÍTIMA DE FEMINICÍDIO.”
O gesto reforçou a pauta central do debate e chamou atenção e destacando como o feminicídio interrompe vidas e trajetórias de mulheres.
Segundo dia com exibição de filme e oficinas formativas
Na quinta-feira (27), a programação iniciou com o documentário “Guerreiras da Vila Princesa”, produzido por Emily Costa como Trabalho de Conclusão de Curso. A sessão contou com a presença das mulheres retratadas, ampliando o diálogo sobre dignidade, trabalho e resistência feminina na comunidade.
À noite, o evento recebeu oficinas práticas no Sebrae:
● Assessoria de Comunicação, ministrada por Wendell Rodrigues (TCE-RO);
● StoryMaker, conduzida por Daniele Gomes (TJRO) em parceria com Emily Sayer, especialista na área; e
● A programação também incluiu a exposição fotográfica do Projeto Fotodoc, além de obras produzidas por estudantes que submeteram seus trabalhos para exibição.
As atividades reforçaram o protagonismo dos estudantes, estimularam a experimentação estética e aproximaram o público dos processos de criação jornalística e artística, compondo um panorama sobre o fazer comunicacional na Amazônia.
FOTO: Alunos de oficinas trocaram aprendizagens com profissionais da comunicação / Reprodução de Canoar
Encerramento reuniu cinema e debate sobre mulheres negras na comunicação
O último dia, realizado na sexta-feira (28), concentrou cinema, debate e representatividade. A programação teve início com o Cine Canoar, das 18h às 18h40, com a exibição do documentário Paumari, produzido por Alinne Mape e Victor Viamonte, do Grupo REC. A obra, que aborda território, ancestralidade e identidade, gerou um debate com o público, mediado pelo Prof. Dr. Samilo Takara (PPGCOM/UNIR), que ressaltou a importância do audiovisual como ferramenta de registro cultural e resistência.
FOTO: Exibições gratuitas de documentários rondonienses aproximou público do cinema e realizou debate com realizadores / Reprodução de Canoar
Em seguida, o evento recebeu a Mesa de Diálogo “Mulheres Negras, Comunicação e Resistência”, reunindo convidadas que compartilharam vivências, trajetórias e reflexões sobre ocupar espaços de mídia e produzir narrativas a partir da perspectiva de mulheres negras na Amazônia e no Brasil. Participaram da discussão:
● Hanna Lopes, ativista dos direitos humanos;
● Pérola Negra (Luciene Lisboa), representante da Marcha das Mulheres Negras;
● Flávia Oliveira, jornalista da GloboNews e integrante do podcast Angu de Grilo (participação online);
● Isabela Muniz, graduanda em Jornalismo na UNIR, que apresentou sua pesquisa de TCC — um livro fotográfico que retrata a resistência e a afirmação das mulheres negras;
● Basília Rodrigues, jornalista do SBT News (participação online).
FOTO: Mulheres negras foram protagonistas em diálogos sobre comunicação / Reprodução de Canoar
A mediação foi conduzida por Khauane Oliveira Farias, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UNIR (PPGCOM/UNIR), que articulou o diálogo sobre imagem, representatividade, enfrentamento ao racismo e a necessidade de construir espaços onde mulheres negras possam narrar suas próprias histórias, com autonomia, sensibilidade e protagonismo.
Com 33 anos de trajetória no jornalismo, Flávia Oliveira iniciou sua carreira na editoria de economia, mas rapidamente percebeu que falar de indicadores é, na verdade, discutir desigualdade, segurança pública, política e cultura. Ela destaca que, para uma mulher negra que deseja ser comunicadora, o primeiro passo é não se afastar da própria história. Flávia lembra que a sociedade ainda valoriza repertórios validados pela elite como viagens, diplomas e referências estrangeiras, porém são justamente as vivências, os saberes e as travessias pessoais que precisam estar presentes no trabalho. Isso influencia tanto a escolha das pautas quanto a forma de contá-las, sempre por uma lente que foge da perspectiva hegemônica.
O encerramento do IV CANOAR reafirmou o compromisso do colóquio em promover uma comunicação amazônica plural, que valoriza identidades, gera pertencimento, fortalece o pensamento crítico e amplia o alcance de vozes historicamente silenciadas. A edição deste ano demonstrou, mais uma vez, a importância de centros acadêmicos e culturais na construção de debates que atravessam território, memória, diversidade e resistência.
FOTO: Participação de convidadas via vídeo ressaltou importância da representação e representatividade de mulheres negras na mídia / Reprodução de Canoar