O estudo revela que a maioria dos feminicídios no Brasil ocorre no ambiente familiar e expõe cenário alarmante em Rondônia
Foto: Freepik
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Um novo estudo do Laboratório de Estudos de Feminicídios da Universidade Estadual de Londrina (UEL) escancara uma realidade persistente e devastadora da violência de gênero no Brasil: o agressor, na maioria das vezes, está dentro de casa. A pesquisa, com dados dos primeiros seis meses deste ano, mostra que o feminicídio segue profundamente enraizado nas relações íntimas, afetivas e familiares.
Segundo o levantamento, 40% dos feminicídios foram cometidos por companheiros que viviam com a vítima, enquanto 33% ocorreram pelas mãos de ex-companheiros. Na prática, isso significa que mais de 70% das mulheres foram assassinadas por homens com quem dividiram a casa, a rotina e a vida. Outros casos envolvem familiares diretos (6%) e parentes por afinidade (5%), reforçando que a violência nasce e se consolida no espaço doméstico.
Os números revelam que a residência deixou de ser refúgio e passou a ser o local mais perigoso para a mulher. Do total de registros, 573 feminicídios aconteceram dentro da casa da vítima, 306 na residência compartilhada com o agressor e 541 em áreas próximas ao lar, como calçadas e entradas de casas. Somados, mais de 80% dos crimes ocorreram no ambiente doméstico ou em suas imediações, evidenciando a dificuldade das vítimas em romper o ciclo de violência.
O impacto se estende às famílias. A pesquisa aponta que 391 mulheres assassinadas eram mães, deixando 683 crianças órfãs. Em 404 casos, o crime foi cometido na presença de crianças ou adolescentes, que passam a conviver com traumas profundos e duradouros.
O perfil das vítimas mostra mulheres, em sua maioria, entre 25 e 44 anos, em plena fase produtiva e muitas vezes responsáveis pelo sustento familiar. Os agressores têm idade média de 36 anos, e 65% foram presos após o crime — uma resposta tardia diante da falha na prevenção.
Em Rondônia, o cenário é ainda mais preocupante. O estado figura entre os que apresentam maiores índices de feminicídio e agressões contra mulheres e meninas no país. Levantamentos indicam que 37% das mulheres rondonienses já sofreram algum tipo de agressão, colocando o estado na segunda posição do ranking nacional. As jovens entre 18 e 24 anos aparecem como as principais vítimas.
A violência sexual também atinge patamares críticos. Rondônia possui uma das maiores taxas de estupro e estupro de vulnerável do Brasil, com 151,4 casos por 100 mil habitantes, número significativamente acima da média nacional, de 128,5 por 100 mil habitantes. Os dados reforçam que a violência contra mulheres e meninas no estado é estrutural, recorrente e, muitas vezes, silenciosa.
Outro alerta é que a maioria das vítimas não possuía medida protetiva. Mesmo entre aquelas que buscaram ajuda, a proteção falhou: 172 mulheres haviam denunciado o agressor antes de serem mortas. Medo, dependência emocional e econômica, além da fragilidade da rede de proteção, seguem como barreiras difíceis de romper.
Diante desse cenário, a pauta começa a ganhar prioridade no âmbito local. Em Porto Velho, o prefeito Léo Moraes determinou agilidade na condução do projeto da Casa da Mulher Brasileira, equipamento que deve concentrar, em um único espaço, serviços de acolhimento, proteção, atendimento psicológico, social e jurídico às vítimas de violência. A iniciativa é considerada estratégica para fortalecer a rede de apoio e garantir respostas mais rápidas e humanizadas às mulheres em situação de risco.
Os dados respondem com brutal clareza: mora no mesmo endereço da vítima. Está no quarto ao lado, na sala, na cozinha — no lugar onde ela deveria estar segura.
Enquanto políticas públicas eficazes, atendimento rápido e uma rede de proteção estruturada não se consolidam, a estatística se repete. O agressor continua morando dentro de casa.
* O resultado da enquete não tem caráter científico, é apenas uma pesquisa de opinião pública!