*1 – ELEIÇÃO NA ALE
*Ficou mais difícil do que a princípio se supôs realizar o propósito do governador Ivo Cassol (PPS) no sentido de conduzir com sucesso a operação capaz de instalar um aliado na presidência da Assembléia Legislativa. Nos dias que se seguiram à reeleição, os estrategistas do Palácio Presidente Vargas contabilizavam, grosso modo, 17 votos favoráveis a uma candidatura situacionista, podendo chegar a 19 com algum esforço e boa vontade governamentais. Destes 19, oito ainda são tidos como absolutamente certos, dois como certos, três como quase certos, quatro como cooptáveis sem grandes esforços e dois como de possível cooptação dependendo do empenho e da vontade política governamentais envolvidos.
*Na categoria de situacionistas incondicionais o governo ainda acredita piamente que conta com os votos dos deputados eleitos Ezequiel Neiva e Jair Miotto (PPS), Luizinho Goebel e Miguel Sena (PV), Alex Testoni e Luiz Cláudio (PTN), Neodi Oliveira e Alexandre Brito (PSDC). Na classe de situacionistas confiáveis a lista governamental inclui os votos dos petebistas Valter Araújo e Daniela Amorim. Para os assessores palacianos mais ressabiados, hoje o governo só pode contar mesmo com estes 10 sufrágios – chamado grupo base. Mas na cabeça de Cassol, ainda caberiam aí os votos dos deputados eleitos Jesualdo Pires (PSB), Euclides Maciel e Valdevino Tucura (PRP).
*Com ressalvas várias, a média da opinião entre os palacianos acredita que uma boa conversa, naturalmente recheada de argumentos algo convincentes, será capaz de assegurar os votos dos deputados estaduais eleitos Mauro Rodrigues, o “Maurinho” (PSDB), Kaká Mendonça (PTB), Maurão de Carvalho (PP) e Wilber da Astir (PSB). Difícil, mas perfeitamente possível, seria, no entendimento palaciano, cooptar os votos dos peemedebistas Amauri dos Santos e Tiziu da Rondomotos. Os casos tidos como absolutamente perdidos são os petistas Ribamar Araújo, Néri Firigolo e Professor Dantas, além dos peemedebistas Chico Paraíba e Marcos Donadon.
*2 – NOMES PALACIANOS
*Repare o leitor que este raciocínio linear pressupõe uma candidatura ideal, de absoluto consenso entre os governistas, alguém acerca de quem, para começo de conversa, nenhum dos aliados incondicionais pudesse fazer a mínima objeção. Ou seja, já deu para perceber que, como esse candidato não existe, as dificuldades governamentais começam exatamente por aí – pela definição de um nome. Segundo os rumores mais recalcitrantes, os estrategistas do governo jogam com três possibilidades, a primeira delas, a que mais agradaria ao governador Cassol, seria a do seu ex-secretário de Saúde e ex-presidente da Caerd e deputado eleito pelo PV Miguel Sena.
*Esta alternativa alinha como vantagens a capacidade de articulação do seu titular, a sua familiaridade com a máquina governamental, o conhecimento sobre o tabuleiro onde se desenvolve o jogo de poder palaciano e a proximidade já longeva com Cassol – o que lhe permite saber com relativa precisão quem tem prestígio junto ao gabinete governamental e quem o governador finge prestigiar. Contra si, reúne pendências judiciais que podem ser utilizadas pela concorrência para tentar solapar a postulação, a óbvia predileção governamental (argumento que adversários podem esgrimir como dado eventualmente comprometedor para a independência da ALE) e uma incerta taxa de rejeição advinda de possíveis conflagrações no exercício dos cargos que ocupou.
*A segunda opção palaciana vem a ser o deputado reeleito Neodi Carlos (PSDC), o 1º suplente do PL na eleição passada que cumpriu quase todo o mandato no lugar do deputado Paulo Moraes, nomeado secretário de Segurança no início da administração Cassol. Não são poucos os que lhe atribuem como cacife o poder de assegurar, de saída, os votos dos outros cinco deputados reeleitos, com a possível exceção do petista Néri Firigolo. Caso o prognóstico esteja correto, é pule de 10, pois na hipótese de se viabilizar como candidato dificilmente deixaria de somar a estes os sufrágios em bloco dos governistas.
*3 – CHANCES DA OPOSIÇÃO
*Como pontos vulneráveis, a concorrência haverá de lembrar que está sob a mira das investigações do episódio das folhas paralelas, além de ter sido apontado pelo próprio governador como destinatário de uma mensalidade palaciana no valor de R$ 20 mil. Do mesmo modo que Sena, o fato de ser da confiança do Chefe do Executivo o torna inconfiável para os desafetos de Cassol. Que, em tese, incluiria a totalidade dos reeleitos. Mas assim como político não ama, também não leva o ódio a sério. De modo que, embora com reservas, o cacife de Neodi permanece factível.
*A terceira e mais improvável alternativa é encarnada pelo deputado eleito Alex Testoni (PTN). A seu favor, num plenário renovado à razão da elevada taxa de 75%, além do prontuário zerado, conta com o fato de ter sido o mais votado entre seus pares – 13 mil 766 votos. Contra si, pesa o fato de ter na mesma bitola do prontuário a estatura política e a experiência na administração pública. O que não chega a ser um grande problema, principalmente se lembrarmos que o presidente-símbolo da Casa, o hoje prefeito de Ji-Paraná José de Abreu Bianco (PFL), nunca havia sequer visto uma Assembléia Legislativa antes de ser eleito para dirigir a de Rondônia. Nasceu em Apucarana, formou-se em Londrina e de lá veio dar com os costados direto na Vila de Rondônia – que viria a ser o município que hoje administra.
*Como, não obstante suas predileções, Cassol não morre de amores por qualquer delas, no frigir dos ovos, com possíveis exceções que confirmariam o enunciado, tanto quanto Sena, Neodi ou Testoni, leva os votos dos governistas qualquer deles – todos são candidatos - que consiga se viabilizar junto a uma meia dúzia de deputados exterior ao grupo base. Garantir isso é que é peia.
*As oposições, claro, têm chances. O processo de articulação na eleição de um presidente do Legislativo, mormente do local, é complicado, traumático e absurdamente imprevisível. A favor delas, a proverbial inabilidade de Cassol. Entre elas, até agora, apenas Ribamar Araújo (PT) andou se insinuando.