Você não está necessariamente ficando velho — está ficando previsível.
É o que afirmam neurocientistas ao explicar por que a sensação de que “o tempo está passando mais rápido” se intensifica com os anos. O fenômeno não tem relação direta com o relógio, mas com o modo como o cérebro registra — ou deixa de registrar — as experiências do cotidiano.
Com uma rotina cada vez mais automática, dias parecidos se acumulam. Sem eventos marcantes, o cérebro economiza energia e armazena menos memórias. O resultado é um efeito curioso: quando você olha para trás, aquele período parece não ter existido. E o que não é lembrado, na prática, é como se não tivesse sido vivido.
Pesquisadores descrevem esse mecanismo como o “encolhimento do tempo subjetivo”. Na infância e adolescência, tudo é novidade: ambientes, pessoas, desafios. Cada pequena descoberta gera registros mentais vivos e numerosos, criando a impressão de que os anos eram longos e intensos. Já na vida adulta, as repetições tomam conta — para o cérebro, dias iguais são dias descartáveis.
A neuropsicóloga Ana Rodrigues resume:
“O tempo não está acelerando. O que muda é a densidade de experiências que o cérebro considera dignas de guardar.”
Especialistas apontam que é possível reverter essa sensação — e não depende de grandes revoluções pessoais. A chave está na criação de novidade, mesmo em pequenas doses. Mudar o trajeto para o trabalho, experimentar um novo hobby, conversar com desconhecidos, aprender algo que exija atenção: qualquer ruptura na rotina força o cérebro a sair do piloto automático e voltar a registrar o mundo com mais nitidez.
É um chamado para provocar o tempo.
Para recuperar a sensação de presença.
Para desacelerar o relógio interno.
Porque, no fim, o tempo só se estica para quem ousa interromper a repetição.