Um novo estudo de físicos brasileiros sugere que a frota de Pedro Álvares Cabral não teria chegado à Bahia em 1500, como conta a historiografia tradicional, mas sim ao litoral do Rio Grande do Norte. A pesquisa, publicada no Journal of Navigation, da Universidade de Cambridge, foi conduzida pelos professores Carlos Chesman (UFRN) e Cláudio Furtado (UFPB).
Eles analisaram detalhadamente dados presentes na Carta de Pero Vaz de Caminha — como datas, distâncias, ventos, fauna e relevo — e aplicaram simulações físicas e computacionais para reconstruir a rota da expedição. Segundo os cálculos, a combinação entre ventos alísios, correntes do Atlântico e o efeito da força de Coriolis tornaria improvável que a frota tivesse alcançado Porto Seguro, sendo mais coerente uma chegada pelo litoral potiguar.
Os pesquisadores argumentam que a trajetória seguida pelos navios portugueses entre Cabo Verde e o Brasil formaria uma rota curva, semelhante a um “S”, impulsionada naturalmente para o norte. A análise também revisita a descrição do “monte grande, mui alto e redondo” citada por Caminha.
Para ser avistado a 30 ou 40 quilômetros da costa, o relevo deveria ter entre 70 e 125 metros, o que não corresponde ao Monte Pascoal, que tem 540 metros e poderia ser visto de mais de 80 km. Já o Monte Serra Verde, em João Câmara (RN), além de ter altura compatível, corresponde melhor às características descritas na carta, incluindo elevações adicionais ao sul.
Outro ponto reforçado pelo estudo é o tamanho do ancoradouro relatado por Caminha, capaz de comportar mais de 200 embarcações. Medições por imagens de satélite mostram que a Praia do Marco, em Touros (RN), possui área aproximada de 200 mil m², o dobro de Porto Seguro.
Para os autores, a soma das evidências — rota física, topografia e dimensões do ancoradouro — indica que a verdadeira chegada da frota de Cabral pode ter ocorrido no Rio Grande do Norte, reacendendo o debate sobre o local exato do descobrimento do Brasil.