Acabou o carnaval. Durante cinco dias, o folião portovelhense saiu às ruas para extravasar suas frustrações e viver momentos de aparente euforia. É no período momo, contudo, que autoridades, políticos e dirigentes públicos aproveitam a cegueira coletiva para adiar ainda mais a resolução dos problemas sociais.
O carnaval deste ano, como de resto, foi um fiasco. Prova disso é que os hotéis da capital ficaram às moscas, com a capacidade de lotação reduzida a praticamente zero. Nota dez para o interior, com destaque para Ji-Paraná e Cacoal.
A desorganização e a falta de criatividade obrigaram o turista a embrenhar-se mata adentro, para desfrutar das belezas naturais, com o ecoturismo ganhando força e novos adeptos.
Voltamos, pois, à realidade. E a situação não é das mais agradáveis. A crise começa pela área da saúde municipal, com a aproximação da febre amarela, que já intranqüiliza moradores do município de Jarú. Tudo pela absoluta incompetência de certos dirigentes públicos.
Em recente entrevista a uma emissora de rádio da capital, o prefeito de Porto Velho, Roberto Sobrinho, do PT, garantiu que as unidades de saúde estariam abastecidas para atender o povo. No lugar do medicamento, a população só encontrou cartazes, com os seguintes dizeres: “não há vacina contra a febre amarela”. E ponto final.
Mas os infortúnios não param por aí. A suspensão abrupta, sem nenhum comunicado prévio, no fornecimento de oxigênio a pacientes da capital, motivou a troca de impropérios entre autoridades da saúde estadual e municipal.
Num caso especifico, foi preciso a Justiça intervir. O Secretário Municipal de Saúde, enfermeiro Sid Orleans, procurou jogar a responsabilidade nos ombros do Estado, mas acabou caindo do cavalo.
Se dependesse do vereador Alan Queiroz (PSB), a Câmara Municipal começaria o ano legislativo convocando Orleans para esclarecer a queima de milhões de reais do Sistema Único de Saúde, com o pagamento de diárias, cujo escândalo vem sendo investigado pela Polícia Federal.
Outro setor fundamental, o da educação, também está engolfado num enrosco sem precedentes. Dezenas de estudantes humildes da 1ª a 8ª séries só não vão perder o ano letivo, graças à ação célere e eficiente da Promotoria da Infância e da Juventude, órgão do Ministério Público do Estado de Rondônia, que propôs Ação Civil Pública contra a administração Sobrinho, visando corrigir decisão extemporânea da Secretária Municipal de Educação, Epifânia Barbosa.
No serviço público, o conceito de isonomia foi mandado às calendas gregas. Enquanto a maioria, que realmente trabalha, percebe salário miserável, os apadrinhados ganham nababescamente, sem trabalhar e sem nada produzir de útil para a sociedade, a não ser o veneno letal da cizânia e da discórdia.
Há três anos e um mês à frente da prefeitura, Sobrinho conseguiu o que parecia impossível, ou seja, intumescer a folha de pagamento de pessoal a patamares insuportáveis, com a nomeação de cabos eleitorais e apadrinhados para cargos comissionados e funções de confiança.
O nepotismo, praga que corrói as entranhas da administração pública, continua solto no pasto, feito besta fera, engordando suas crias, com o suado dinheiro do contribuinte municipal, a espera de uma decisão do Ministério Público, que, logo, colocar-lhe-á o devido cabresto.
Os recursos destinados aos setores da educação e saúde, dentre outros, essenciais à vida da população, são cada vez mais escassos, enquanto as realizações matérias são desviadas do seu sentido humano.
A política precisa deixar de ser uma farsa, uma deformação democrática, para poder atender às legítimas aspirações da sociedade, de maneira equânime e equilibrada, restringindo os privilégios do poder econômico contra os segmentos menos afortunados.
Para que Porto Velho atinja o nível de outros municípios vanguardeiros do progresso, urge reformular a mentalidade político-administrativa vigente.