SEU PARÁ: O encadernador de livros do jornal Alto Madeira – Por Marcos Souza

SEU PARÁ: O encadernador de livros do jornal Alto Madeira – Por Marcos Souza

Foto: Divulgação

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Logo que entrei no ano de 1992 no saudoso e inesquecível jornal Alto Madeira, como revisor de textos, quatro anos antes de ser promovido a repórter cultural, tive um grande parceiro de função, que já era um veterano do quadro de serviço do velho matutino, cujo primeiro nome era Francisco, mas era popularmente conhecido pelo apelido de “seu Pará”. Um senhor que tinha uma história de vida trabalhando como impressor e encadernador, mexendo com as rotativas do parque gráfico do jornal nos áureos tempos, quando a redação era na Rua Barão do Rio Branco - centro de Porto Velho.
 
No entanto, após um acidente vascular cerebral, ficou impossibilitado de continuar na gráfica e foi remanejado para um trabalho que não o obrigava a mexer com tintas tóxicas ou querosene, cujo odor lhe causava fortes tonturas. E logo que se recuperou do golpe do AVC, que foi de baixa intensidade, foi para o setor de revisão.
 
 
Quando cheguei ao jornal, novato, ele já estava nessa função. Um homem simpático, brincalhão e sempre sorridente. Mas tinha alguns momentos — raros, mas ocorriam — em que ficava olhando para o nada, como se tivesse apagado em flashes. Logo voltava e dizia que estava tudo bem.
 
A nossa função de revisor se desenvolvia em quatro etapas no processo de deixar uma página do jornal pronta para passar pelo fotolito e depois virar uma chapa de alumínio que iria para a execução da impressão na gráfica: revisávamos os textos das reportagens de cada página, marcando para os digitadores os erros encontrados; devolvíamos, eles corrigiam esse texto, conferíamos novamente para dar o ok. Em seguida, esses textos eram configurados no formato — fonte, tamanho da fonte e título — que o diagramador havia feito para a página.
 
Esse material impresso ia para a montagem de página, que era feita por seis profissionais que recortavam na tesoura e usavam cola para montar numa cartolina com marcações. Essa página vinha para nós, revisores, e fazíamos a última revisão, para saber se estava tudo alinhado, títulos corretos, diagramação de acordo com a matriz. Depois dessa etapa, a página aprovada ia para ser feito o fotolito, que então era transposto para uma lâmina de alumínio.
 
 
Para nós, revisores, era puxado, dependendo da demanda de matérias do dia. O jornal Alto Madeira nesse período tinha oito páginas do primeiro caderno — incluindo a capa —, quatro páginas do segundo caderno — o Caderno de Variedades, onde se destacavam as colunas sociais e matérias do Lítero-Cultural, agenda etc. — e ainda quatro páginas dos Classificados. No sábado fazíamos a revisão da edição de domingo, que era mais robusta, incluindo uma revista da TV.
 
O seu Pará, diante dessa demanda, por vezes deixou passar alguns erros de títulos que estampavam uma ou outra página, mas, devido à sua dificuldade às vezes de compreensão, mostrou que não estava rendendo no setor de revisão. Logo, ele foi remanejado para a gráfica, porém para trabalhar como encartador de páginas do jornal. E o seu Pará tinha um talento que eu não conhecia: como trabalhou muitos anos em gráfica, sabia encadernar publicações, no formato capa dura, livros e revistas de forma manual.
 
Eu, com a minha coleção de histórias em quadrinhos e livretos precisando de um encadernador, conversei com ele sobre a possibilidade de fazer alguns trabalhos com o material que tinha. E ele cobrava uma imoralidade pelo serviço — no bom sentido. Pois era muito barato, algo entre 25 e 40 reais por encadernação.
 
 
O seu Pará tinha um capricho em fazer todo o processo: parte em sua casa e depois vinha à gráfica do jornal para fazer o recorte das páginas na guilhotina, além de costurar as páginas das publicações. Ele já tinha certa dificuldade motora, mas era esforçado e fazia tudo com dedicação.
Logo depois, quando assumi a reportagem do Caderno Variedades em 1996 e depois me tornei editor, o velhinho foi aposentado e deixou de ir para o jornal. Como ele ficou adoentado, perdi o contato, e o seu Pará passou a ser lembrado nos corredores da gráfica e na redação pela dedicação afetuosa que tinha com o Alto Madeira, mas principalmente por ter sido um companheiro de labuta que me ajudou a tornar uma parte da minha coleção de leituras eterna.
 
Infelizmente, as fotos desse período do Alto Madeira se perderam, pois ainda não eram digitais, e muitas imagens de bastidores foram feitas de forma analógica, com filme e revelação. As fotos que ilustram este texto, referentes ao impresso, dizem respeito a uma parte da equipe da redação e a outra à capa do jornal nos anos 90, que foi o formato com o qual trabalhei quando iniciei minha atividade como revisor.
 
 
Disponibilizei também as fotos dos livros e HQs que o seu Pará encadernou para a minha coleção e que ainda estão na minha estante, perdurando como prova do excelente trabalho executado por ele.
 
Grande figura da imprensa, e que, mesmo não sendo jornalista, mas como profissional de gráfica, seu Pará deixou muitas histórias de vida e um legado — infelizmente restrito às poucas pessoas que o conheceram de fato.
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