Quando recebi o release sobre o espetáculo “Olhos de Touro”, da Cia Márcia Duarte, de Brasília, fiquei intrigado para saber, afinal, o que poderia ser algo com nome tão instigante. Ao ler, fiquei ainda mais interessado para assistir a peça que mistura dança contemporânea e teatro. Ou vice-versa, que tem como foco a história do Minotauro – aquele metade humano, metade animal. Os textos do espetáculo são do dramaturgo e escritor Marcus Motta.
O local da apresentação foi o Teatro Um do Sesc, em Porto Velho, numa sexta-feira de noite agradável e cadeiras lotadas, que faz parte da décima edição do Palco Giratório. Antes de entrar, um aviso iniciava o que estaria por vir: “por favor, gente, vocês serão os próximos a entrar no labirinto e é necessário que fiquem atento a tudo, porque a próxima vítima pode ser qualquer um de vocês”. Entramos todos em silêncio.
O primeiro impacto foi ver o personagem, interpretada pela atriz Márcia Lusalva, percorrer o palco em todos os sentidos expressando a concentração que se deve ter ao entrar num labirinto cheio de surpresas. Sentimentos que mudam a cada escolha. Angústia, medo, morte, terror, prazer, desespero, pânico, alegria. Introspecção.
Os desvarios do ser humano imerso diante dos vários obstáculos do misterioso labirinto. Pavores e temores do desconhecido causavam ansiedade e agonia a cada passo. Água e fogo estão presentes na vida de qualquer um para acender ou apagar o que se quer, depende apenas da decisão. Certa ou errada sempre existirá uma conseqüência. Talvez por isso, o lado animal, ao debater-se pelo chão, sofria e chorava como se fosse menino, como se fosse morrer. Como se fosse conosco. Como se fosse na vida. Segredo.
A apresentação não durou mais que quarenta minutos, mas permitiu aos expectadores um final vitorioso e repleto de suspense. Sentiu-se que o labirinto existe dentro de cada um e que as batalhas internas são como se fossem infinitas, mesmo sendo derrotáveis. Como a luz do palco que acende toda vez que um espetáculo termina. Quando as palmas são inevitáveis. Quando a vitória depende de nós.
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Marcos Paulo é acadêmico de jornalismo