As autoridades chinesas anunciarama
suspensão temporária das tarifas adicionais sobre uma série de produtos norte-americanos, o que representou um novo passo no complexo jogo diplomático entre as duas maiores potências econômicas do mundo. A decisão estabelece uma moratória de um ano para as sanções tarifárias de 24% impostas em abril. No entanto, permanecem em vigor as tarifas de 10% estabelecidas anteriormente em resposta às medidas comerciais do governo de Donald Trump.
A Comissão de Tarifas do Conselho de Estado da China também anunciou que, a partir de 10 de novembro, eliminará as tarifas de importação — que chegavam a até 15% — para determinados produtos agrícolas dos Estados Unidos. Contudo, a situação continua complicada para um produto-chave: a soja. Considerando a tarifa base, o imposto total para a soja norte-americana agora é de 13%. Segundo os participantes do mercado, isso ainda torna as importações dos Estados Unidos pouco rentáveis em comparação com a oferta brasileira.
Historicamente, a soja tem sido o principal produto de exportação dos Estados Unidos para a China. Em 2016, antes do início da guerra comercial, o volume de compras atingiu 13,8 bilhões de dólares. Entretanto, o ano atual foi marcado por uma redução drástica das importações, resultando em perdas milionárias para os agricultores norte-americanos. As estatísticas alfandegárias revelam uma queda significativa: se em 2016 os Estados Unidos representavam 41% das importações chinesas de soja, em 2024 sua participação caiu
para cerca de 20%.
Nesse contexto, o encontro entre Trump e Xi Jinping na Coreia do Sul foi recebido com alívio pelos investidores. A reunião presencial entre os líderes reduziu o temor de que as negociações para resolver o conflito comercial fossem interrompidas — um conflito que continua exercendo influência desestabilizadora sobre as cadeias globais de suprimentos.
É revelador que, pouco antes da cúpula, a empresa estatal chinesa COFCO tenha adquirido três carregamentos de soja norte-americana. Analistas interpretaram esse movimento como um gesto de boa vontade, indicando o desejo de Pequim de evitar uma escalada de tensões. No entanto, muitos agentes do mercado permanecem céticos quanto às perspectivas de uma rápida normalização do comércio bilateral.
Em consequência, as medidas anunciadas, embora demonstrem algum progresso no diálogo, ainda não são capazes de modificar de forma radical a estrutura atual dos fluxos comerciais. O mercado continua operando segundo as regras da conveniência econômica, nas quais os gestos políticos nem sempre se traduzem em contratos comerciais.