Na terra dos Bandeirantes um incandescente archote grudado de Breu, brilha viscosamente na aldeia Tupiniquim. A corda de esparto queimada pelo fogo de suas mitológicas encantarias, sobe feito uma flecha incontrolável direcionada ao Norte brasileiro.
Ela ficara por vários séculos adormecida nos Latossolos tropicais de Porto Velho, ligada por uma espécie de cordão umbilical da terra. Com o advento das Três Marias, o cordão fora revivificado à base de grafite e argila.
Décadas depois, Xiripá, resolvera desprender o cordão da vida com a sua velha tesoura de Taquara, retirada de uma panela de barro com óleo de Capeba. A parteira Tupiniquim, sabiamente soube esperar com paciência para anunciar o nascimento e envio de seu filho aos belos rincões da Amazônia.
Porém, Xiripá, somente lhe entrega pedaços de grafites envelhecidos na argila, e algumas folhas amareladas de papiro, durante a primeira metade do ano dois mil. A partir dali a busca pelo pão seria árdua para o filho Rondeau Vivant.
Atônito, Vivant acorda pela madrugada numa radiante imaterialidade e clama por Xiripá:
Mãe, por favor, fale comigo nem que seja pela última vez. Acorda, mãe, onde a senhora estiver. Porque jogara-me por entre um chão com gravatas de ferro? Por um chão de três irmãs dormindo ao alto e que nunca se acordam? Por um chão cortado de veias líquidas amarelas, e me entrega apenas folhas e grafites? Mãe porque me abandonaste? Somente tu conheces o meu cenário de fome. Já que não queres me responder, aponte-me ao menos, quais serão os meus primeiros passos diante de tantas folhas antigas amareladas que me deste?
No surreal mundo do altívolo de outra dimensão da vida, Xiripá aparece suntuosa com um belo traje fino de algodão.
O vento manso soprava a sua longa saia. Era o cobertor enrolado ao corpo de Vivant que sempre o protegera de fortes garoas que também vestia silenciosamente o corpo das montanhas de branco.
O irradiante cobertor ainda umedecido com o sagrado leite materno que alimentara Vivant, irradiava-se com o brilho esplendor das sementes da floresta, exalando o aroma da terra com ligação a um lindo céu azul coroado por um imenso olho avermelhado pelo sol amazônico.
Suntuosa, Xiripá, solta seus cabelos e constrói uma rede que envolve todas as órbitas planetárias, e acompanhada pelos anjos, ela aparece ao filho, e na maviosidade de sua eloquente voz, responde a Vivant:
Nunca reclame do espaço onde pousaste, pois fora ele transformado em lugar por você, e o lugar agora é seu. Você será imbricado por um tempo a três enraizamentos iniciais que te ajudarão a descobrir quem realmente é você. Guarde esses ensinamentos para sempre, pois nem tudo será vitória. Você acordará chorando no próprio sangue mas sobreviverá graças a uma estrela anunciada do firmamento que te enviarei. Ela te dará novos rebentos que irá lapidar o seu ser, mas apenas o ser. Eles serão responsáveis para que um dia você possa valorizar mais a sua ontológica alma do que o ato agonizante do ter., mas não esqueça de que precisará ser firme nas primeiras batalhas que virão até você. Agora preciso ir, mas voltarei para te falar sobre essas batalhas que você terá que enfrentar. Será apenas o começo.
Vivant acorda sob um melodioso acalanto que o fez refletir profundamente sobre os próximos passos que se transformarão nas colunas de sustentação da sua vida. Colunas que ao serem alojadas em sua sensível espiritualidade herdada de Xiripá, o fará eternamente saber viver entre o olho morto da fome a fome do olho vivo.