Quando o vento o levou, uma brisa embelecida alojava – se na alma estetizante do jovem sonhador e dizia: - voarás nas asas da estrada verde.
As asas eram ornadas de flores, as imagens dançavam entrelaçadas na maternidade da mátria barrenta que banhava seus pés, a briosa varanda da casa abrira seus braços imensuráveis diante do pouso bravio do sonhador, e o sol causticante iluminou Maria nas ferragens de sangue e disse: - teu filho chegou.
O pouso não fora perfeito, mesmo assim, Maria arrastou – se por entre ferros adormecidos ao chão e abraçou o rebento que chegara sem remo e sem rumo. Exausto, o rebento ainda em metamorfose, conseguira derramar uma lágrima solitária entranhada no rio das almas. Em devoção, Maria aproximou-se desmesurada e disse: - estão faltando duas lágrimas.
Maria afastou-se para receber outros filhos, e entregou o seu mais novo rebento aos cuidados do velho de barbas barrentas. No espaço e tempo, os fios de cabelo de sua barba espalhavam - se por todas as estradas por onde ele passava, e transformavam -se em sementes que germinavam vidas. Esmaecido o velho olhou para o rebento dizendo: - filho, as duas lágrimas que faltaram, uma é a árvore, e a outra, é a sua própria semente. Eu não posso mais ficar, mas vou batizá-lo como o mensageiro das cartas.
O mensageiro passou a enviar cartas ao mundo inteiro, assoprando notícias de suas substâncias ontológicas de luz, mas, logo ficara sabendo, que a sua devaneante árvore poético – estetizante da vida, fora morta e arrebatada pela delinquência humana horripilante.
Na exuberância cósmica de outra dimensão ancestro-cosmogônica, Maria encontrou-se com o velho e enviaram a semente do mensageiro das cartas, em forma de anjo. Nesse imaginário privilegiado e transcendental, o anjo e o mensageiro se abraçam e choram de felicidade.
Mas a sociedade envolvente aterrorizante e sem comiseração, dilacerou as relações de benevolência e de paz. O anjo não conseguira voar até o sublime lar, as suas asas foram criminosamente decepadas, e o seu virtuoso corpo transformou-se num tapete de sangue da impunidade e no fracasso do sistema carcerário.
No império das cinzas, ainda escuta-se o gemido fúnebre do mensageiro das cartas implorando por justiça, e tendo que suportar em pranto, o aniversário da dor de sua semente.