Final de semana, momento de espairecer, colocar a programação dos streamings em dia. Vou resgatar duas minisséries porretas e um documentário espetacular sobre um famoso serial killer. Produções para provocar, pensar, refletir e causar fortes emoções.
Ótima diversão!!
***
OLHOS QUE CONDENAM- Minissérie da Netflix que foi um maiores sucessos do serviço de estreaming quando foi lançado em 2019.
É um soco no estômago! A minissérie da diretora Ava Duvernay, com produção do ator Robert De Niro e da apresentadora Ophra Winfrey, narra a história dos quatro adolescentes negros e um latino entre 14 e 16 anos que foram presos e condenados injustamente pela acusação de estupro no Central Park destrói qualquer emocional.
Apresenta uma história real e pungente, que teve uma repercussão com motivações de segregação racial. Dividido em quatro episódios dramáticos, difícil não se incomodar e ver como os fatos desenrolaram de uma maneira brutal, com apoio da grande imprensa, que na ocasião deu voz até a um Donald Trump mais novo e pedindo pena de morte aos jovens sem mesmo saber dos fatos como ocorreram.
Insisto, é um soco no estômago. O primeiro episódio é espetacular na construção de toda a armação da confissão dos jovens pela polícia e de como eles vão se complicando com a omissão ou pressão de um e outro pai, temeroso com o destino do seu filho. É tenso, triste e revoltante como a acusação contra cada um deles vai sendo montada.
O segundo episódio mostra o julgamento dramático e absurdo. Alguns momentos fazem a saliva sumir e a boca secar pela intensidade.
O terceiro e o quarto episódios mostram a vida e como a prisão transformou cada um deles. Seja no convívio social ou familiar, as sequelas são impactantes e descreve o descaminho, o preconceito e a força de um sistema prisional bruto, sem limites.
O personagem mais desconstruído é Korey, o mais velho deles, de 16 anos, e que pela maioridade penal vai direto para uma penitenciária, ao contrário dos outros que foram para o reformatório.
Vou evitar contar mais e não pesquisem no Google a história real e como acabou para cada um deles o destino de suas vidas.
A minissérie tem um capricho pontuado por interpretações incríveis, a dramaticidade acapachante na direção segura da diretora, criadora e roteirista da minissérie, Ava Duvernay. Ela dá o tom e não poupa ninguém - a série é para faixa etária de 18 anos -, realiza os confrontos dramáticos com uma precisão cirúrgica dando intensidade até mesmo para personagens com participações curtas, mas realistas e cruas - como a "irmã" de Korey - ou o pai de Antron - que tem uma trajetória de culpa comovente.
Assista essa minissérie, pois ela revigora a visão da vida e faz refletir – como a liberdade é um bem muito valioso.
NIGHT STALKER: TORTURA E TERROR -É um documentário baseado em fatos reais ao mostrar e reproduzir o verão de 1985 em Los Angeles, quando um serial killer tem início a uma contagem de corpos que mobilizou os melhores detetives da homicídios e a mídia televisiva.
Eu já conhecia a história do assassino em série Richard Ramirez, um dos psicopatas mais controversos da história criminal norte americana - estadunidense - e que deixou uma assinatura peculiar nas cenas de crimes, utilizando pentagramas, símbolos estranhos e exaltação a Satanás nas paredes.
A minissérie cria um suspense laborioso e a expectativa na polícia antes de descobrir a verdadeira identidade do assassino, e essa sensação é compartilhada no espectador que vai acompanhando cada passo das investigações e juntando as pistas num quebra cabeça intrigante e sombrio.
O documentário tem uma estrutura narrativa muito boa e dinâmica, destaca em suas aberturas de alguns episódios o calor intenso que toma conta da cidade de Los Angeles no longínquo ano de 1985, com tomadas aéreas incríveis e que vão dando o mote visual, com planos abertos, imagens de arquivos dos pontos da cidade, sem esquecer das incríveis reproduções das cenas de crimes com base nas fotos e registros da própria polícia.
Somos apresentados logo de cara aos detetives policiais Gil Garrillo, do Departamento do Condado de Los Angeles, e o lendário investigador de homicídios Frank Salerno. Com um breve histórico biográfico deles, pois são quem conduzem as investigações dos crimes, ouvem as testemunhas, juntam pistas e são também os principais responsáveis pela prisão do assassino.
Não tem spoilers, por se tratar de um documentário dividido em quatro partes com 50 minutos cada episódio, baseado em fatos reais o serial killer é considerado um dos mais cruéis e bárbaros e o seu nome se tornou um dos mais procurados em pesquisa de estudos de caso.
As vezes em intervalos de dois ou um dia matava uma mulher, logo em seguida um casal de idosos, onde estuprava a anciã, matando de forma cruel o homem.
Isso deixava o departamento de polícia em permanente estado de alerta a ponto da vida social e familiar dos investigadores ser muito afetada. Gil Garrillo foi um dos que teve que anular sua vida familiar, dormindo somente três horas por dia num longo período de investigação.
O documentário mostra também como o trabalho da imprensa foi importante, ainda que em alguns momentos quase atrapalharam as investigações.
O diretor Tiller é muito feliz em mesclar fotos reais das cenas de crimes e reproduzi-las de forma fiel, com uma dramatização crua e brutal de alguns assassinatos. Meticuloso. E soube montar com capricho em que junta depoimentos atuais, com a narrativa dos policiais contando o passo a passo de cada detalhe apurado - a do tênis que o assassino usava nos crimes é espetacular, pois a sola do calçado tinha uma identidade notória - com as de familiares das vítimas, técnicos forense e de outros policiais que foram importantes para descobrir o assassino.
CLICKBAIT - Essa minissérie está escondidinha no catálogo da Netflix, mas é fácil de achar na pesquisa da plataforma, onde a história tem uma premissa que dá muitas voltas, envolve um grande mistério, dramas familiares e cai numa solução final até surpreendente, porém se alonga demais.
Vale dizer que é uma crítica voraz ao chamado "Catfish", pessoas que se passam por outras na Internet em encontros virtuais, criando vidas paralelas que podem virar caso de polícia.
Aqui um fisioterapeuta de uma escola secundarista, Nick Brewer (o ótimo Adrian Grenier), desaparece e logo surge numa plataforma de vídeos na Internet que é veiculado nas redes sociais um vídeo seu, onde está machucado e segurando uma placa com a frase: "Eu abuso de mulheres. Com cinco milhões de visualizações, eu morro".
Quando a sua irmã, Pia (Zoe Kazan), descobre aciona a polícia e alerta a família através de sua cunhada, a esposa de Nick, Sophia (Betty Gabriel).
Então todos tem que correr contra o tempo para encontrar Nick antes do vídeo atingir 5 milhões de visualizações.
Logo aparece outro vídeo onde ele está mais machucado e segurando outra placa: "Eu matei uma mulher".
O mistério cresce quando aos poucos alguns conflitos familiares vão surgindo e segredos que envolviam a relação de Nick e Sophie podem ser a chave do seu sequestro.
Vou parar por aqui para evitar spoilers e revelar algumas reviravoltas que vão dando tempero a trama, principalmente quando Nick é suspeito de se envolver com outras mulheres através de sites de encontros - como Badoo.
São oito episódios, de 45 minutos cada, narrados com pontos de vistas diferentes dos envolvidos com o mistério, como: "O detetive", "A irmã ", "A esposa", "A amante", "O repórter", "O filho", "O irmão" e o episódio final com a solução.
Meu episódio favorito é o do repórter, as informações e a sua dedicação na busca da verdade acabam trazendo consequências para a investigação policial e provocará o caos na vida de Sophie, que vai ter problemas com os dois filhos adolescentes. Não só isso, o episódio discute a ética jornalística, da frieza do repórter ao lidar com emoções alheias e que acabam atingindo a sua vida pessoal.
Gosto da interação dos personagens com a Internet e as redes sociais, diálogos, vídeos e áudios compartilhados entre eles ficam visíveis - a Netflix teve o cuidado de traduzir para o português essas interações - diálogos do Messenger, por exemplo - similar a arte dos caracteres originais, isso acaba dando agilidade a narrativa para quem assiste, sem ter que ler a legenda.
No geral, a minissérie peca por alongar algumas situações que poderiam ser resolvidas em um episódio, no entanto, a solução final, é engenhosa para a trama e inesperada.