Os escritores da floresta são autênticos guardiães de uma linguagem singular e plural. Mas o ato pernicioso do preconceito linguístico em desfavor das populações originárias e tradicionais da Amazônia brasileira, oblitera com exclusão e insolência os valores literários de uma poética sócio-linguístico-cultural que continua oprimida, desvalorizada e à revelia da literatura nacional vigente.
Indígenas, quilombolas e ribeirinhos, carregam uma vasta rede de conhecimentos que são cotidianamente pesquisados pelo meio acadêmico como objeto de estudo e como relevante suporte à produção científica. São línguas milenares enriquecidas por um sistema lexical que constitui um importante acervo geo-histórico-linguístico que atravessou gerações. Um acervo dinâmico, que flui, e que é metamorfoseado no espaço e tempo por uma comunidade de fala.
Para o linguista Kanavillil Rajagopalan – Universidade Estadual de Campinas – “lamentavelmente, muitos pesquisadores no campo de estudos sobre a linguagem preferem trabalhar à revelia das possíveis consequências do seu trabalho para o mundo e para as pessoas de carne e osso que nele habitam”. É necessário também ressaltar que ao estudar, investigar ou pesquisar os sujeitos de uma comunidade de fala, o pesquisador não deve trata-los como objeto de estudo, mas sim, como pesquisandos, atores sociais e autores do lugar em que vive.
Os escritores da floresta ainda vivem sob estereótipos e estigmatizações de uma gramática normativa padrão que desconhece e exclui os seus valores ontológico-linguísticos. São autores de narrativas afrodescendentes dos quilombolas, de narrativas ribeirinhas dos seringais e de narrativas míticas das populações indígenas, que estão enclausurados e acobertados por uma cortina de silêncio preconceituosa e extremamente excludente.
Para Florence Carboni e Mário Maestri, “A repressão linguística é igualmente caminho para a repressão social e cidadã. Ela contribui para a reprodução das desigualdades sociais”. Quando os escritores da floresta amazônica forem libertados das garras da literatura conservadora e inovarem a leitura, conquistando novos leitores com suas peculiares e plurais publicações, certamente estarão vencendo e superando o alijamento linguístico e a linguagem escravizada.