Se a vida deixar de ser vivida, se uma coletividade perder o seu espaço de ação e se o lugar ficar sem a existência do ser, será uma prova incontestável e clarividente de que o deserto avassalador transformará de forma escabrosa e causticante a impoluta e briosa paisagem amazônica.
Se os embrutecidos gargalos da política pública continuarem impedindo a voz constitucional da cidadania, provocando afrontosamente o estrangulamento coercitivo da briosa e vivificante florestania, certamente, os valores ontológicos de suas populações tradicionais e originárias, estarão despoticamente condenados ao opróbrio da vida.
Se a partir do momento em que sentimento e pertencimento do espaço vivido são violentamente extirpados pela força espoliadora do capital exacerbado, as vivências e experiências coletivas serão danosamente obliteradas do lugar, e, portanto, não serão apreendidas ao ser. Martin Heidegger nos diz que tudo se baseia na apreensão de tais vivências e na apreensão da consciência de algo. Para ele, esse mundo vivido é a primeira tarefa da fenomenologia.
Se não há enraizamento peculiar de uma coletividade no espaço e tempo de um lugar, também não haverá o singular ato de internalizar os modos de vida na originalidade existencial do ser. Se o ente amazônico como vivente que apreende a sua cotidianidade, tiver a sua alma desalojada por um segmento reacionário da sociedade envolvente, ceifa-se também o caráter hermenêutico-ontológico da fenomenologia do ser.
Se o homem deixar a vida viver, se a vida for vista com humanidade, se a humanidade adotar o bem viver, se o bem viver se tornar alternativa, e se essa alternativa for celebrada na Amazônia, a Amazônia poderá viver feliz.