As denúncias envolvendo o Departamento Estadual de Trânsito de Rondônia (DETRAN), divulgadas neste RONDONIAOVIVO, não constituem nenhuma novidade, no trato dos negócios públicos. Nem mesmo as aberrações que teriam ocorrido apresentam qualquer originalidade.
Diariamente, tomamos conhecimento de episódios semelhantes, nos mais diferentes níveis e escalões da administração pública, o que mostra que atravessamos uma profunda crise de caráter no gerenciamento dos negócios públicos.
Perecemos num mar de desmandos e falcatruas, porque da pocilga já fomos promovidos. A cada ano, o país perde trilhões de reais entre desvios, comissões, licitações e contratos fraudulentos.
Pipoca uma roubalheira a cada vinte e quatro horas. Multiplique este número por trezentos e sessenta. Some-se o resultado aos escândalos que não são computados e teremos um número aterrorizante.
Pior que a corrupção, contudo, é saber que ela não é punida. Pelo contrário, é premiada. Parece que chegamos àquela situação descrita por Ruy Barbosa, em sua “Oração aos Moços”: a virtude envergonhando os que a praticam, enquanto os criminosos escarnecem dos outros; tranqüilos, na impunidade protetora.
Honestidade, neste país, virou palavrão. O cidadão é considerado imbecil, quando passou por cargos públicos, assumiu funções de destaque, enriqueceu seu currículo com episódios em que a verticalidade de seu caráter serviu de exemplo, lidou com dinheiros gordos sem se apossar de boa parte deles e, apesar de tudo isso, continua pobre.
Em lugar de selecionar os objetivos de suas atividades, tendo em consideração os interesses, as necessidades e as aspirações do povo, muitos dirigentes deturpam as finalidades concretas da atividade administrativa, com a execução de obras superfaturadas e a celebração de contratos fraudulentos, muito acima do valor real, com o propósito de engordar suas já polpudas contas bancárias e de grupelhos.
A atividade própria e especifica da administração pública identifica-se com o interesse social, não podendo, como acontece no momento, ser colocada a serviço de privilégios menores. O uso indevido dos recursos públicos rebaixa e avilta a atividade administrativa, porque a desvia de suas legítimas finalidades.
O caso DETRAN, como tantos outros de que se têm notícia, não pode passar em brancas nuvens. À semelhança do farol que, aceso no alto da colina, guia o navegador no meio dos rochedos, o Ministério Público de Rondônia precisa entrar em ação, visando oferecer respostas concretas à sociedade.