A cidade de Vilhena está no caminho de um dos projetos mais ambiciosos da infraestrutura sul-americana: a ferrovia transoceânica, que promete ligar o Oceano Atlântico, no litoral brasileiro, ao Oceano Pacífico, no litoral peruano. O projeto voltou aos holofotes após a ex-presidente Dilma Rousseff, agora presidente reeleita do Novo Banco de Desenvolvimento (Banco dos Brics), reafirmar na semana passada o compromisso de viabilizar a obra com o apoio da instituição sediada em Xangai, na China.
Com uma extensão prevista de 4,4 mil quilômetros, a ferrovia cruzará o país de leste a oeste, passando por Estados estratégicos, e Vilhena será uma das cidades-chave no traçado. A inclusão do município na rota não apenas coloca Rondônia no centro do mapa logístico internacional, mas também representa uma oportunidade única de desenvolvimento econômico e social para a região, gerando expectativas no município e região há mais de 10 anos.
CRONOGRAMA
O projeto é dividido em três grandes etapas dentro do território brasileiro: (1) Porto do Açu (RJ) a Mara Rosa (GO), trecho já em construção com a participação da mineradora Vale; (2) Mara Rosa (GO) a Vilhena (RO), esta parte integra a chamada Ferrovia de Integração Centro-Oeste (Fico) e (3) Vilhena (RO) a Boqueirão da Esperança (AC), na fronteira com o Peru, passando por Porto Velho (RO) e Rio Branco (AC), até chegar ao país vizinho.
O primeiro trecho da Fico, de 383 km entre Mara Rosa (GO) e Água Boa (MT), está em andamento com mais de 30% das obras executadas e previsão de entrega em 2028. O segundo trecho, de 506 km até Lucas do Rio Verde (MT), deve entrar em concessão nos próximos anos. Já o trecho final até Vilhena, com 646 km, ainda não tem data para começar, mas está nos planos da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e deve ganhar força com os investimentos internacionais, especialmente da China.
BENEFÍCIOS
Com a chegada da ferrovia, Vilhena pode se tornar um polo logístico ainda mais importante, facilitando o escoamento da produção agrícola e mineral da região.
Além disso, a cidade deve atrair investimentos em setores como transporte, armazenamento, serviços e indústria. A expectativa é de que milhares novos empregos sejam gerados, a infraestrutura urbana melhore e o município se insira de vez nas grandes rotas comerciais internacionais. Por outro lado, o setor de transporte que envolve caminhões, autopeças, motoristas e transportadoras pode sofrer um “baque”.
A ferrovia também encurtará o tempo e reduzirá os custos para exportações com destino à Ásia, especialmente à China, principal parceira comercial do Brasil. Atualmente, a produção brasileira depende de rotas longas e caras, como o Canal do Panamá. Com a transoceânica, esse trajeto pode ser até 10 dias mais rápido.
NOVA ROTA DA SEDA
A China tem demonstrado interesse direto no projeto, como parte da sua estratégia da "Nova Rota da Seda", e já atua fortemente em infraestrutura na América do Sul. Em novembro passado, os chineses inauguraram o moderno porto de Chancay, no Peru, que deve ser o ponto final da ferrovia. Operado por estatais chinesas, o porto reduzirá de 35 para 25 dias o tempo de viagem de produtos sul-americanos para a China.
Com isso, Vilhena pode se tornar uma conexão essencial entre o Brasil e os mercados asiáticos, servindo como ponto de cruzamento entre os sistemas ferroviários nacionais e internacionais.
CIFRAS ALTAS
Apesar do potencial, a ferrovia ainda depende de grandes investimentos, estimados em mais de meio trilhão de reais (US$ 100 bilhões). O envolvimento do Banco do Brics, sob comando de Dilma, e de estatais chinesas como a CRCC e a Crec, é visto pelo governo federal como essencial para tirar a obra do papel.
Em 2012, o então prefeito de Vilhena, Zé Rover, chegou a apresentar o projeto da ferrovia no auditório da Prefeitura, garantindo que em poucos anos a obra chegaria a Vilhena.