SEMA quer implantar projetos no Lago do Cuniã
Foto: Divulgação
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Os moradores da Reserva Extrativista (Resex) do Lago do Cuniã, receberam no final de semana uma equipe da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Sema) que visitou a região para fazer um levantamento das áreas preservadas, da disposição de resíduos sólidos, das demandas e necessidades e orientar sobre a aplicação de compensações ambientais. Liderada pelo titular da Sema, Edjales Benício de Brito, a equipe conversou com a comunidade, conheceu o projeto de Abate do Jacaré, fez um diagnóstico de plantas e sementes do local e visitou os lagos de criação e reprodução do Pirarucu - espécie que garante melhor renda aos ribeirinhos e quem por iniciativa dos próprios moradores, deixou de ser capturado por um prazo de quatro anos.

O presidente da Associação dos Moradores do Cuniã (Asmocun), Hailton Lopes, explica que a população de jacaré -que é crescente- e que se alimenta principalmente do pirarucu, mais a pesca da espécie, pelos ribeirinhos foram os principais fatores que levaram à esta decisão. “Percebemos que a quantidade de pirarucu era cada vez menor. Realizamos várias reuniões com os pescadores, contratamos biólogo para nos orientar e chegamos à conclusão de que deveríamos suspender a pesca do pirarucu, por um período de quatro anos. Não foi fácil tomar essa atitude, pois era nossa principal renda, porém era isto ou corrermos o risco de vermos este peixe sumir do nosso Cuniã”, relatou o presidente.
O presidente destaca ainda que a decisão se tornou documento oficial. “ Este é considerado o primeiro Plano de Pesca do Estado. Nele orientamos sobre a espécie que não pode ser capturada, o tamanho, a época e ainda sobre a aplicação de penalidades. E não é só o pirarucu, também tem outras espécies neste plano. Assim estamos garantindo que estes pescados se reproduzam e aumentem e mais tarde possamos ter para nosso consumo e para a comercialização”, enfatizou.
Além do presidente, vários moradores falaram sobre suas dificuldades e do orgulho em viver no Lago do Cuniã. “Aqui eu nasci, e viverei até o fim da minha vida. E quero que nossa comunidade seja lembrada e que a ajuda chegue, pois nós estamos precisando e muito”, disse o pescador Jorge Ferreira.
Ecoturismo Comunitário
O secretário da Sema elogiou a atuação da comunidade na preservação da reserva e da necessidade de se trabalhar um projeto de Ecoturismo Comunitário. “Sabemos que o turismo de base comunitária é um modelo de desenvolvimento que privilegia o ser humano, e garante condições de vida digna a todos os cidadãos, centrado em uma cultura de cooperação, parceria e solidariedade. É uma alternativa aos projetos de turismo convencional, como uma oportunidade importante de valorização de práticas sustentáveis de uso dos recursos naturais e da promoção da interculturalidade. É possível um momento de encontro entre pessoas e culturas diferentes e este elemento precisa ser resgatado com muita ênfase, com todas suas implicações, para sair da lógica restrita e mercantilista do turismo de massa”, observou.
O secretário disse ainda que apenas nas unidades de conservação e terras indígenas se vê ainda mais respeito com o meio ambiente. “No restante está tudo detonado. Precisamos conscientizar as pessoas da importância de se preservar e da recuperação de áreas degradadas. Temos aqui no Cuniã um grande exemplo e que todos precisam conhecer. É possível viver em harmonia com a natureza, dela tirar seu sustento, sem destruí-la”, disse Edjales.
Edjales que tinha em sua equipe a bióloga Leilane Guerra e o engenheiro florestal Dênis Oliveira, disse aos moradores que a Sema vai fazer um grande levantamento dos projetos que tem a possibilidade de serem levados ao Cuniã e ainda de futuras parcerias. “Agora que sabemos do potencial desta região e também das carências, vamos levar as propostas para Porto Velho e articular com as demais secretarias municipais, estaduais e outros colaboradores que possivelmente vão abraçar o Cuniã. Temos um grande tesouro aqui e precisamos cuidar dele. Como também precisamos que esta comunidade que tem zelado por esta região seja assistida”, salientou.
Banco de Sementes
O engenheiro florestal e assessor da Sema, Dênis Oliveira, destacou que a região do Cuniã é rica em sua flora e que é possível numa parceria através da secretaria implantar um grande Banco de Sementes. Segundo ele os Bancos de Sementes constituem uma das formas mais eficazes de conservar os recursos genéticos a longo prazo, pois permitem conservar grande quantidade de material, de origem e qualidade controladas, num espaço relativamente reduzido. “A importância de projetos como esse é não só garantir a sobrevivência de espécies, como guardar a diversidade, fundamental para a produção de plantas resistentes a diferentes ambientes. Este será um grande projeto e que poderá auxiliar na recuperação de áreas degradadas. Isso pode ajudar na arborização dos distritos e outras regiões da cidade”, explicou.
Abate de Jacarés
O Lago do Cuniã é pioneiro no abate de jacarés em uma unidade de conservação. O frigorífico instalado na Reserva foi implantado com recursos de compensações das Usina de Santo Antônio e o Instituto de Chico Mendes de Conservação da Biodeversidade (ICMbio) ajudou com os equipamentos. A atividade iniciou no ano passado e abateu inicialmente cerca de 300 animais. Mas hoje mesmo com equipamentos e mão de obra, o projeto não tem avançado muito, como explica Antônio Ednaldo de Souza, (presidente da cooperativa criada para o projeto do jacaré. “Temos o frigorifico, as pessoas que abatem os jacarés foram capacitadas, mas necessitamos de apoio. Esta é uma atividade que surgiu também como uma opção de renda até que possamos capturar o pirarucu. O que ganhamos com a venda do jacaré é mais de 50% menor do que ganhávamos com o pirarucu. Não tem sido fácil para nossa comunidade, pois o açaí e a castanha que comercializamos, também tem suas épocas de produção e colheita. Então, sem outras opções, tudo fica difícil”, relatou observando que a captura é difícil, requer ainda muito combustível. “Só podemos fazer o abate uma vez por ano, entre os meses de outubro e novembro. Precisamos de apoio na comercialização, na divulgação do nosso trabalho e para o transporte”, frisou.
Foram mais de 1,5 mil quilos só no primeiro abate e que foram vendidos para um distribuidor de Porto Velho. Mas o alimento exótico ainda não caiu no gosto da clientela, segundo o presidente, por falta de informação. “ É uma carne exótica e deliciosa. Em outras cidades do Brasil e até mesmo em outros países é uma iguaria de luxo. Mas aqui, muitas pessoas não conhecem. A carne já sai devidamente empacotada e com o selo do Serviço de Inspeção Municipal (SIM), em parceria com o Serviço de Inspeção Federal (SIF) e o Instituto Chico Mendes (ICMBio)”, disse ele.
Mesmo com boa cotação no mercado nacional e internacional, em Rondônia a produção caminha a passos lentos. Outra reivindicação da comunidade do Cuniã é sobre o trabalho com o couro do jacaré que seria para eles uma excelente opção de renda. “Mas não temos nem tecnologia, nem apoio para esta atividade ainda. São milhares de quilos de couro dispensados e que poderiam ser utilizados na produção de calçados, bolsas e outras peças. Se tivéssemos como trabalhar este material poderíamos melhorar nossa renda e melhor sustentar nossas famílias”, disse ele.
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